quinta-feira, 23 de junho de 2011

Quatro histórias sobre maneiras de agir

Paulo Coelho
Usar os dois bolsos
Um discípulo comentou com o rabino Bounam de Pssiskhe:
- O mundo material parece sufocar o mundo espiritual.
- Sua calça tem dois bolsos - disse Bouhnam. - Escreva no direito: o mundo foi criado apenas para mim.  No bolso esquerdo, escreva: eu não sou nada além de pó e cinzas.
“Divide bem teu dinheiro nestes dois lugares. Quando vires a miséria e a injustiça, lembra que o mundo existe apenas para que possas manifestar tua bondade, e usa o dinheiro do bolso direito. Quando estiveres tentado a adquirir coisas que não te fazem a menor falta, lembra do que está escrito no teu bolso esquerdo, e pensa várias vezes antes de gasta-lo. Desta maneira, o mundo material nunca sufocará o mundo espiritual”.

Quando dar e quando receber
Nasrudin passeava pelo mercado, quando um homem se aproximou.
- Sei que és um grande mestre sufi - disse. - Hoje de manhã, meu filho me pediu dinheiro para comprar uma vaca; devo ajudá-lo?
- Esta não é uma situação de emergência. Então, aguarde mais uma semana antes de atender o seu filho.
- Mas tenho condições de ajudá-lo agora; que diferença fará esperar uma semana?
- Uma diferença muito grande - respondeu Nasrudin. - A minha experiência mostra que as pessoas só dão valor a algo, quando tem a oportunidade de duvidar se irão ou não conseguir o que desejam.

De quem é a culpa
Um casal saiu de férias - e, ao voltar, encontraram a casa arrombada; os ladrões tinham levado tudo.
O marido acusou a mulher, dizendo que as trancas não tinham sido colocadas. Ela afirmou que ele esquecera de fechar a porta com a chave. Uma longa discussão começou, até que os vizinhos chamaram um padre para serenar os ânimos.
- A culpa é dela, que sempre foi desleixada - disse o marido.
- Não, a culpa é dele, que não presta atenção no que faz - respondeu a mulher.
- Um momento - disse o padre. - Vivemos culpando uns aos outros por coisas que jamais fizemos, e terminamos carregando um fardo que não é nosso. Será que nunca lhes ocorreu a idéia que os ladrões são os verdadeiros culpados pelo roubo?

Tornando o campo fértil
O mestre zen encarregou o discípulo de cuidar do campo de arroz.
No primeiro ano, o discípulo vigiava para que nunca faltasse a água necessária. O arroz cresceu forte, e a colheita foi boa.
No segundo ano, ele teve a idéia de acrescentar um pouco de fertilizante. O arroz cresceu rápido, e a colheita foi maior.
No terceiro ano, ele colocou mais fertilizante. A colheita foi maior ainda, mas o arroz nasceu pequeno e sem brilho.
- Se continuar aumentando a quantidade de adubo, não terá nada de valor no ano que vem - disse o mestre. - Você fortalece alguém, quando ajuda um pouco. Mas você enfraquece alguém, se ajuda muito.

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